Entrevista do Pr. Guy Key, durante a Conferência StartUp The Mission

Sobre o Pr. Guy Key

Pastor há 40 anos ordenado, já foi Pastor nos EUA (Arkansas e Texas), São Paulo e Rio de Janeiro. Missionário transcultural há mais de 34 anos – plantador de igrejas e prof. de seminário. Graduado em Ciências Sociais, Mestre em Teologia e Doutor em Missões pela Golden Gate Baptist Theological Seminary, California
Entrevistador: Pastor, o sr. poderia se apresentar.
Pr. Guy Key: Bom, eu sou pastor Guy Key. Sou missionário há 34 anos e a minha atuação é maior na área de plantação de novas igrejas ao redor do Brasil, treinando Plantadores de igrejas. Há ênfase forte na área do discipulado, o trabalho em pequenos grupos e, nesses últimos tempos, Deus está abrindo as portas para treinar futuros missionários – e eu acredito nessa próxima geração. Eu acredito na juventude brasileira. Eu acredito na juventude latino-americana. Porque eu entendo que esses vão ser usados por Deus para fazer grandes coisas ao redor do mundo em termos da expansão do Reino de Deus.
E.: Ok, pastor. E sobre o Panorama Missionário Mundial atual, como você enxerga isso? O que o sr. sugestiona para estratégias que possam mudar essa realidade?
Pr. Guy Key: Bom, a gente sofre hoje no mundo ocidental com uma influência muito grande de materialismo. Sofremos muito com uma pressão de egocentrismo, e o Evangelho é o evangelho para olhar para fora; é para abençoar e ajudar outras pessoas. Então, um dos desafios é ajudar essa geração a entender o seu papel de: primeiro Jesus convida você para vir e morrer. Esse não é um recado muito agradável para qualquer geração, mas Jesus convida todos nós para virmos e morrermos. Morrermos para os nossos interesses pessoais, porque precisamos povoar o céu com pessoas transformadas pelo sangue de Jesus Cristo, pela conversão, pelo desejo de viver uma vida de retidão. Então, eu vejo aqui as estratégias; precisamos trabalhar à “vida na vida”, ter um discipulado onde a pessoa esteja adotando uma nova pessoa e gastando tempo com ela. Nós fazemos parte do maior exército do mundo. Os exércitos de países aí não se comparam com o de Cristo, então a estratégia é essa, de fazer discípulos… É uma estratégia simples, dada por Jesus há mais de 2 mil anos, e que não muda. O que dificulta muitas vezes é a questão da Juventude só pensar em si, e Deus precisa fazer uma obra. Estamos orando por isso.
E.: Então, você não acha que os problemas do mundo contemporâneo, o momento que a gente vive enquanto humanidade é que traz a maioria dos problemas?
G.K.: Corretíssimo! Vivemos uma época onde a juventude está conectada, ela acaba se socializando via redes sociais. Têm muitos jovens que não tem contato “tête-à-tête” com outras pessoas. Tudo é via algum aparelho, alguma tecnologia. Então, precisamos simplificar um pouco a vida, ajudar o jovem a ter experiências marcantes em grupo, trabalhar a questão da União… Da unidade da igreja, desligarmos um pouquinho mais os aparelhos e termos realmente conversas que vão ajudar a gente a poder resolver problemas pessoais e a crescermos juntos.
E.: Com relação à Janela 10/40, o que você acha das estratégias missionárias atuais? Em uma análise sua, elas estão sendo bem-sucedidas ou ainda faltam pontos a acertar?
G.K.: Eu fico muito feliz de ver o interesse da Juventude de ir para Janela 10/40. Agora, muitas pessoas estão indo para ela, olhando aquilo “romanticamente”, achando que vão ir e mudar as coisas, e tal; e eu entendo que quando você vai para a Janela 10/40, você precisa trabalhar três questões: Você precisa trabalhar a questão de aprender a língua. Então, aprendendo a língua você precisa também aprender a cultura, em 2º lugar; por fim você precisa ser uma pessoa íntegra diante dos países e das etnias que você está tentando ganhar para Cristo. São três áreas específicas e, muitas vezes, queremos levar conosco a nossa cultura, queremos também não só levar o evangelho, mas levar coisas nossas para eles, e isso não é o que Jesus está desejando que aconteça. Ele quer transformar aquela cultura – não ‘numa’ cultura ocidental, mas quer transformar realmente aquela cultura via experiência com o próprio Jesus. Trabalhar a questão da família; trabalhar o contexto de pessoas poderem se sustentar dignamente e terem um papel de influenciar outras pessoas para virem conhecer a Cristo. Hoje eu creio que precisamos fazer ajustes. Sempre vamos ter que fazer ajustes, porque o mundo muda constantemente e a Janela 10/40 também muda. Há grandes movimentos de pessoas mudando do seu país de origem para outros lugares. E, talvez vamos ter que atender essas pessoas fora do seu contexto de origem; talvez vai ser no acampamento de imigrantes onde eles estão situados e sem muita esperança, então podemos levar e pôr o evangelho para eles naquelas circunstâncias imigratórias.

E.: Então, com relação à estratégia da OGC-Médicos com uma Missão de formar médicos missionários, como o sr. vê isso para esse contexto da Janela 10/40?
G.K.: Olha, eu entendo que não existe uma outra agência missionária com esse foco. Eu conheço muitas agências missionárias, mas esse foco é o que eu chamo de “comer pelas beiradas”; é diferente! É impactante, a juventude gosta de coisas diferentes e a oportunidade de o brasileiro vir a fazer a faculdade de Medicina no Paraguai, um lugar que forma médicos competentes – é uma oportunidade ímpar. Esses jovens, futuramente, vão servir a Deus em algum Campo fora do contexto Brasil, vão se comprometer e vão se preparar para poder levar o evangelho junto com a medicina.
E.: O sr. poderia explanar o que foi esse treinamento [se refere ao Startup the Mission], e quais são as expectativas que o sr. tinha antes de vir? Como enxerga o impacto desse treinamento na vida dos vocacionados?
G.K.: Olha, eu fiquei muito sensibilizado de poder estar aqui nesse treinamento, nesses dias. Achei que os alunos demonstraram um desejo de aprender. Senti neles a transparência, obviamente todo mundo é novo nesse processo, então, há muitos questionamentos e pudemos conversar abertamente, aí eles puderam fazer perguntas pessoais e particulares. Houve um momento muito especial, onde sentamos ao redor de uma mesa e eles puderam conversar comigo e aí terminamos aquele momento orando debruçados no mapa da Indonésia -que é o país de maior número de muçulmanos do mundo, são 235 milhões de muçulmanos. E orando, realmente intercedendo, para que o povo daquele país tenha a oportunidade de ouvir, de entender e de aceitar a Jesus como Salvador.
E.: Com relação ao crescimento que nós enxergamos no mundo muçulmano, com a globalização, como o sr. vê a igreja atual? Está se preparando ou ainda falta muito a percorrer? E quais seriam esses passos a percorrer ainda – se houverem?
G.K.: Eu creio que nós temos grandes desafios pela frente, porque os muçulmanos estão chegando até nós. Existe uma necessidade de nos prepararmos melhor para desenvolvermos relacionamento de confiança com eles. Precisamos criar pontes com eles, e a única forma de criar pontes não é de isolá-los, mas é de conhecermos o suficiente pontos do Alcorão, e amarmos eles com o amor de. E em momentos oportunos poder ter um diálogo com eles sobre o propósito da vida. A diferença, por exemplo, do Islã para o cristianismo, é que na eternidade o Islã promete benefícios baseados no egoísmo; isso diferente do cristianismo, que na eternidade quem será exaltado é Jesus Cristo. Eis aí um ponto diferente entre os dois pensamentos: Um é o resultado, eu vou me beneficiar pessoalmente e satisfazer os meus desejos pessoais. O cristianismo fala que nós vamos dar toda Honra a Jesus Cristo. Então, nós temos muito que aprender. Eu entendo que a maior parte dos cristãos evangélicos têm medo do Islã, eles têm medo de estarem com muçulmanos e nós precisamos quebrar essas barreiras. Eu entendo que se a gente criar relacionamentos, vamos criar uma ponte entre o nosso coração e o coração do Mulçumanos; que Jesus Cristo vai atravessar do nosso coração e vai entrar no coração do Muçulmano.
E.: Por último (e não menos importante): E a igreja atual? Sabemos que a igreja hoje não foca em missões tanto quanto a urgência missionária pede, e também está muito mais segmentada e dividida atualmente, em relação às denominação e diferenças teológicas. Isso é prejudicial à missão?
G.K.: Precisamos entender que todos nós cristãos, que entendemos que a salvação é por meio de Cristo Jesus é através de uma experiência transformadora de aceitar a Jesus no coração. Uma vez que a gente tem isso como ponto principal, a obra de missões é algo que podemos fazer melhor juntos do que separados. Porque juntos somos mais fortes, e podemos fazer mais coisas se trabalharmos em conjunto, isso é o primeiro ponto. O segundo ponto é que muitas igrejas têm uma vírgula depois da igreja, aí colocam Missões. Missões é a razão de ser da igreja. O que acontece muito no meio ocidental é que nós vemos igrejas que gastam muita energia construindo grandes templos. Eu não sou contra a construção. Agora, precisamos simplificar: Se você estudar o modelo da igreja em Jerusalém, era o conceito da mega igreja “vem para nós”. E aí, se você estudar o modelo da igreja de Antioquia, é uma igreja de expansão que não está tão ligada em ser uma igreja para dentro, ela está querendo expandir, está querendo formar novas igrejas. Eu creio que o modelo mais saudável é o da igreja de Antioquia, esse é o que está no coração de Deus. É de expandirmos via obra missionária. Agora, como é que vamos experimentar essa transformação na igreja? Primeiro: o Espírito Santo é que tem que trazer convicção às pessoas do pecado, de novo de querer crescer para dentro. Precisamos enxergar o que acontece no mundo. Hoje, um dos pontos mais fantásticos da tecnologia é que nós estamos podendo ver “ao vivo e a cores” o que está acontecendo ao redor do mundo segundos depois que acontece. Então, a igreja está ciente dos desafios e do seu papel junto a esses povos não alcançados. Temos que trabalhar a questão da igreja e, um dia, eu creio que a “lampadazinha” vai acender e a pessoa vai entender a ordem da grande comissão. Amar a Deus acima de todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo, fazendo discípulos verdadeiros de Jesus. Aí é a volta de Jesus. Eu creio que muitos crentes não acreditam na volta de Jesus. Nós temos que estar animados sobre a volta de Jesus, temos que estar implorando a Ele para voltar logo, mas Ele não voltará até que estejamos cumprindo o nosso papel da missão, de levarmos o Evangelho até os confins da terra.
E.: Obrigado, Pr.! O sr. gostaria de fazer alguma consideração final a respeito desse momento? Desde já, a O.G.C. – Médicos com uma missão agradece pela sua atenção.
G.K.: E é bom, só destacar que a OGC é uma agência única, não existe no mundo uma agência com esse foco. Existem muitas agências missionárias que contratam e trazem para o seu quadro de missionários, médicos. Mas, a OGC é singular, no fato de que a questão da missão da OGC é especificamente a saúde e usando a saúde como a porta para chegar nas pessoas com o evangelho de Jesus Cristo.